Nos últimos anos, Lígia Soares tem-se interessado pela forma como o público se relaciona e pode participar na acção. Foi assim em “Romance”, e é assim neste “O Ato da Primavera”. De facto, nas sete peças que compõem este espectáculo, são os espectadores que as interpretam. Com recurso a uma instalação de monitores (uma espécie de telepontos) e microfones, que se reconfiguram para cada peça, os “actores emprestados” conseguem interpretar, sem ensaios nem outra preparação, estes textos.
As sete peças são:
- “Sou eu” de Nuno Moura
- “Forty Love” de Ricardo Vaz Trindade
- “não costumo falar contigo” de Miguel Castro Caldas
- “Sim Mas Não” de Andresa Soares
- “E Morrer no Assombro” de Sónia Baptista
- “1991, última conversa” de Tiago Rodrigues
- “Max. Peça para cinco vozes” de José Maria Vieira Mendes
Os espectadores de cada sessão vão sendo convidados, à vez, para darem voz e corpo aos personagens das várias peças. Uns com mais naturalidade, outros menos, mas todos cumprindo o seu papel com brio. Os textos vão desde o humor à nostalgia, da memória ao nonsense, representando as vozes dentro das sete vozes dos sete autores.
“A Arte Progressiva dificilmente tolera uma atitude contemplativa”. É a frase de Theodor Adorno que se pode ler no programa deste espectáculo. E, de facto, Lígia Soares defende-o ao colocar o espectador na posição “activa”, dentro da acção (passe a redundância). Este vosso amigo, que só gosta de ver o palco do lado da plateia, passou para o outro lado duas vezes. Não é a posição mais confortável do mundo para um introvertido, mas há que admitir que deixar essa postura contemplativa não deixou de ser um desafio interessante.
19 outubro – 11 novembro 2017.
Teatro Nacional D. Maria II
Lisboa
edição de vídeo Francisco Moreira