Primeiro que tudo, uma confissão: Resisti a Saramago até aos 45 anos(!!). As razões não as sei. Talvez o ter dado ouvidos a que era um escritor de difícil leitura, a questão da pontuação, dos parágrafos longuíssimos. Em boa hora quebrei essa resistência. O clique foi a entrevista que fiz, para o Coffeepaste, ao Director da Fundação José Saramago, Sérgio Machado Letria (que podem ver abaixo). Depois da pesquisa que tive de fazer, e de o ouvir, algo em mim mudou. Resolvi então ler o “Memorial do Convento”. Depois li “A Estátua e a Pedra”, em que o escritor explica o seu processo e ideias (obrigatório para seus admiradores ), e agora terminei “O ano da morte de Ricardo Reis”.
Este livro começa com a chegada de Ricardo Reis a Lisboa, depois de 16 anos no Brasil. Estamos em 1935, em plena ditadura de Salazar. Quem é na realidade Ricardo Reis? Como se adaptará de novo à vida da cidade? Conseguirá retomar a sua actividade de médico de medicina geral? Tudo ficaremos a saber nas páginas deste livro. Reis instala-se num hotel, e aí se desenrola parte da trama, com as personagens que o habitam.
A figura de Fernando Pessoa é, obviamente, omnipresente, não fosse Ricardo Reis um dos seus heterónimos.
Saramago guia-nos com mão de mestre pelas ruas da baixa lisboeta dos anos 30, onde reconhecemos edifícios, praças, e monumentos que ainda existem, e outros que infelizmente já desapareceram.
Os diálogos são escritos de forma brilhante, e as descrições transportam-nos realmente para o terreno. Quando voltar à baixa, não me vou poder esquecer delas.
Talvez por Fernando Pessoa ser um poeta que me fascina, e talvez por Lisboa ser a minha cidade, ainda desfrutei mais deste livro do que do “Memorial”. E já daquele tinha gostado muito.
Se por um lado me sinto entusiasmado por ainda ter uma vasta de obra de José Saramago para conhecer, por outro já sinto nostalgia, porque sei que é finita.
Termino citando o inicio do livro, na esperança que na próxima visita a uma livraria o comprem: “Aqui o mar acaba e a terra principia. Chove sobre a cidade pálida, as águas do rio correm turvas do barro, há cheia nas lezírias.”
Entrevista de Sérgio Machado Letria, Director da Fundação José Saramago, ao Coffeepaste
O ano da morte de Ricardo Reis
de José Saramago
Edição: Porto Editora
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