Ben Frost voltou mais uma vez ao Teatro Maria Matos — desta vez para apresentar The Centre Cannot Hold, o mais recente álbum. A electrónica agressiva e sufocante continua presente aqui, mas tudo soa menos luminoso e mais frio do que álbum anterior (A U R O R A, de 2014, que o produtor australiano também apresentou no Maria Matos).
Esse lado mais gélido é até explorado esteticamente no álbum e nas redes sociais do músico: metade da capa do disco é uma barra de azul sólido; no vídeo do single, Threshold of Faith, todas as imagens têm um filtro azul — e até o nome da última faixa do disco, Entropy in Blue. E, apesar de instrumental, é impossível ignorar o comentário político e social em The Centre Cannot Hold, evidenciado, por exemplo, pelos 12 segundos do tema A Single Hellfire Missile Costs $100,000 ou faixas como Healthcare.
Seguindo o alinhamento do disco, o concerto impressionou sobretudo pela intensidade da música, mas também pela imersividade do espectáculo — formas abstractas a lembrar nuvens, também elas em tons azuis, projectadas numa tela reflectora, que também espalhava luz pela sala e que era agitada, como se atingida por uma tempestade, nos momentos mais agressivos (trabalho cénico de MFO, por quem Ben Frost já se tinha feito acompanhar no último concerto por cá).
No final do concerto, as opiniões dividiam-se — mas parecia ser ponto assente que nenhuns ouvidos teriam saído de lá iguais.
12 dezembro 2017
Teatro Maria Matos
Lisboa