Angel Olsen parece ter tomado o gosto em apresentar-se a solo – no dia seguinte ao concerto de estreia em Portugal (em 2015, por ocasião da Trienal de Arquitectura), e onde se apresentou com banda, subiu ao palco da Galeria Zé dos Bois, sozinha com a guitarra. Voltámos a vê-la no ano seguinte, novamente sozinha e no mesmo sítio, onde esteve em residência artística antes de lançar My Woman.
Foi assim que se apresentou também na segunda-feira, dia 14, no Teatro da Trindade, num concerto organizado pela ZDB. De preto de cima a baixo – o vestido, as meias, os sapatos e até a guitarra – anunciou ao que vinha: tocar algumas músicas novas e outras mais antigas. Arrancou com Sans, tema incluído no mais recente disco, Phases (uma compilação de raridades, maquetas e lados B). “I’m feeling kinda tired / But I know it’s for the best” são não só versos desta primeira canção, mas também uma preocupação real que partilharia com o público ao longo da noite (“I’m going to sleep so well tonight”, disse a meio do concerto, depois de desabafar o quão cansada estava, com uma honestidade desarmante).
A sala, cheia que nem um ovo, manteve-se em suspenso desde os primeiros acordes. Afinal, ninguém quer perder uma nota daquela voz, que tanto parece que nos quer embalar (como em California, tema originalmente editado em 2013 mas também presente em Phases, quando a norte-americana nos diz “esta é a minha parte favorita”, antes de sussurrar um doo-do-doo, enquanto dedilha a guitarra), como explode em tons mais altos, num grito que carrega o sofrimento da tradição do country e com uma intensidade que não encontramos nos discos.
O registo foi quase sempre de um intimismo recatado, mas houve momentos em que a veia rock pulsou mais forte: caso de All Mirrors, uma das novas canções apresentadas, com um fervor na voz e na guitarra a fazer lembrar PJ Harvey.
Apesar de a presença hipnotizante de Angel Olsen ser suficiente para encher um palco (bastaria a voz, na verdade), a ausência da banda nota-se em alguns momentos: a guitarra parece tomar caminhos por onde já andou e algumas músicas pedem algo mais. Mas há também vantagens: sozinha, pode escolher mudar o alinhamento na altura, gritando para o técnico de som ao fundo da sala “Scott, vou saltar a próxima, não me apetece tocar essa”, como se estivesse em casa. É a mesma postura descontraída que lhe permite atirar piadas entre as músicas, aligeirando o peso emocional do que acabou de cantar (“estou muito contente por estar de volta. Digo isto em todos os sítios onde vou, mas agora estou a mesmo a falar a sério. É mesmo a sério, desta vez.”)
A meio do concerto pediu ao técnico de luz que mudasse a iluminação – e a breve descrição do que queria para as luzes assenta também na perfeição para a sua música: “dark, sexy lighting”.
A abrir a noite esteve o português Alek Rein, também sozinho mas com uma guitarra acústica, que apresentou um punhado de canções folk (entre o bucólico e o psicadelismo).
Angel Onsel e Alek Rein
14 Maio 2018
Teatro da Trindade
Lisboa