Um grupo de artistas de vanguarda vai para a Amazónia fazer uma novela. Todas as personagens são más e cruéis, e detestam viver neste local. Um ramo de árvore perturba o sono da menina? Corte-se a árvore! Os índios são um empecilho? Matem-se os índios! Ora, trata-se de ficção dentro da ficção e, claro, por se representar situações cruéis não quer dizer que os artistas o sejam nem as defendam.
A mesma cena da novela repete-se várias vezes, seja com textos diferentes, seja com luz e música diferente. Este recurso à repetição acrescenta tensão e humor à mais recente criação da Mala Voadora, projecto liderado por Jorge Andrade e José Capela.
A tensão e o nível de crueldade vão crescendo até que, perto do final, cai a “quarta parede” e os actores dirigem-se ao público. É uma técnica que já vi nesta e noutras companhias, mas que costuma resultar, introduzindo por vezes um elemento de humor e de desconstrução da formalidade do teatro.
Todo este espectáculo foi reciclado, tal como os actores referem ao dirigir-se ao público. E dão exemplos: As luzes, os figurinos, a cenografia, até os actores foram reciclados de outros espectáculos.
Uma nota curiosa: Ao ler a folha de sala ficamos a saber que é a primeira vez que a Mala Voadora usa uma máquina de fumo num espectáculo.
“Amazónia” é, em resumo, uma forte crítica ao capitalismo selvagem e àqueles que destroem a natureza e as civilizações antigas em nome de interesses económicos.
Foto de Estelle Valente
9-19 Novembro 2017
São Luiz Teatro Municipal
Lisboa
texto e direção Jorge Andrade . assistência de encenação Maria Jorge . com Bruno Huca, Isabél Zuaa, Jani Zhao, Jorge Andrade, Marco Mendonça, Tânia Alves e Welket Bungué . cenografia e figurinos José Capela . banda sonora Rui Lima e Sérgio Martins . luz Rui Monteiro . robots Behind . fotografias de cena José Carlos Duarte e Marta Simões . imagem de divulgação Marta Ramos . vídeo de divulgação Jorge Jácome e Marta Simões . direção de produção Joana Costa Santos . assistência de produção Luna Rebelo . apoio à produção e comunicação Jonathan da Costa . gestão e programação cultural Vânia Rodrigues . residência artística O Espaço do Tempo