“…And lips, you are the doors of breath. Seal with a righteous kiss the deal I have made with death forever. (ROMEO kisses JULIET and takes out the poison) Come, bitter poison, come, unsavory guide! You desperate pilot, let’s crash this sea-weary ship into the rocks! Here’s to my love!
(ROMEO drinks the poison)
Oh, that pharmacist was honest! His drugs work quickly. So I die with a kiss.”
Simples. Uma das cenas mais revisitadas nos teatros do mundo, a morte de Romeu e Julieta. E, ainda assim, está nesta cena toda a incoerência da situação que estamos a viver agora.
Vi hoje uma imagem alegadamente criada durante um ensaio feito num Teatro no Japão para testar as regras de distanciamento social necessárias ao retorno ao mundo artístico. Tudo parece distópico. Que teatro será este? De que forma se irá alimentar (e não estou a falar dos problemas de financiamento das artes apenas)? De que forma irão os criadores e artistas sentir o retorno emocional do seu trabalho?
A pergunta mais importante continua a ser o “Quando”? Quando voltaremos a sentar-nos ao lado de desconhecidos e rir das peças? Ouvir o senhor sentado à frente que ressona e que tanto nos incomodava até há uns meses (e que agora ia adorar ouvir)?
E enquanto esse quando não se responde ficamos pelo “Como”. Façam o exercício comigo:
Fechem os olhos!
Pensem no Romeu e Julieta, qualquer versão: teatro, filme… o que for.
Então agora:
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distâncias de segurança (a parte da varanda vai ser feita)
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Máscaras (este calha bem no baile)
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frascos de veneno? Dois, se faz favor.
Porque as portas podem até abrir em Junho – mediante as regras definidas – mas parece-me que a liberdade de criação vai continuar em confinamento: os gestos vão ser pensados e repensados, os ensaios estão a ser o que são (e muito admiro os que estão a lutar por manter essa dinâmica ativa) e temo que quando as portas se abrirem, a disponibilidade mental dos espectadores seja menor do que os apoios do Ministério da Cultura aos artistas.
E se o Romeu e a Julieta estiverem para morrer, na cena icónica com que abro este texto, o absurdo leva-me a crer que se irão despedir com uma cotovelada.