São 21h e estamos à porta da Sala dos Gessos do Museu Militar. Incrível descobrir que, ainda que vivendo em Lisboa e estando atenta ao que nos rodeia acabo sempre por descobrir qualquer coisa que nunca vi antes – uma sala com estátuas de gesso de algumas das obras mais emblemáticas como a estátua de D. José I que figura na Praça do Comércio.
Somos divididos em grupos de 15 participantes e somos acompanhados por cada uma das estações onde nos esperam os intérpretes provenientes da colaboração com o Conselho Português do Refugiado e com a própria freguesia de S. Vicente de Fora. Olhamos e cada uma das estações, rigorosamente separadas, nos deixa antever fronteiras. Os intérpretes encarnaram as suas personagens com respeito e profissionalismo. Nos olhos de cada um vemos orgulho, felicidade mas também alguns riscos de dor.
Ao fim das 8 estações somos convidados a quebrar fronteiras e fundindo participantes com intérpretes deslocamo-nos em desfile festivo até ao segundo ponto da atuação – fazemos, como o nome da peça indica, uma viagem sentimental – sonora: com os cânticos, gargalhadas, palmas e um tambor típico; visual: com o movimento, as luzes, os caminhos dessa freguesia muitas vezes esquecida.
Enquanto a primeira parte da atuação nos faz sentir como pertencentes à coreografia, esta segunda é o ponto alto da peça – somos espetadores dessa outra Viagem Sentimental. Por um lado o Francisco faz a sua interpretação, o seu momento intimista de partilha através do movimento do corpo e das palavras. Por outro lado, vemos as fronteiras que quebrámos mostrarem outra dificuldade – as fronteiras físicas podem até ser quebradas mas todo o trabalho subsequente de quem muda de país reside na quebra das fronteiras emocionais, das fronteiras culturais algumas das quais são barreiras interiores e inconscientes. No fim, com todos os intérpretes em palco, percebemos que esta viagem está a chegar ao fim. Sabemos, no entanto, que muitas outras estão a começar e parte de nós receber os outros como gostaríamos de ser recebidos.
Coreografia e Interpretação: Francisco Camacho
Assistência Artística: Liliana Garcia, Beatriz Dias
Direção Técnica e Desenho de Luzes: Hugo Coelho
Produção e Comunicação: Carlota Borges Lloret
Produção: EIRA
Projeto iniciado a convite de DeVIR / CAPa
Intérpretes: Alain Bonard, Andreia Gomes, Biana Silva, Bruno Freitas, Carolina Carloto, Dinmukhambet Utebekov, Elisabete Mª Loureiro Santos, Esmeralda Amoroso, Fatumata Djau, Idalete Nunes, Jana Haghighi, Joana Sousa, Leila Namasi, Mana Haghighi, Manuela Farinha, Manuel Bito, Margarida Garcez, Margarida Gonçalves, Maria Aldora Quadrado, Maria, Ivone Leite, Marta Jardim, Marta Ricou, Miguel Nogueira, Natacha Campos, Otávia Costa, Rahman Haghighi, Vanessa Gomes, Verónica Almada, Vimbayi Chidavaenu, Vitorino Afonso