Tenho menos de 40 anos e ainda me lembro de dançar slows.
Em 1995 as festas de anos eram feitas nas casas dos pais e a existência de garagens permitia a alguns livrarem-se de uma casa em caos. Esse livrar era também a nossa porta de abertura para um mundo sem adultos: o mundo dos amigos em conjunto: os da escola, os do desporto, de qualquer um dos outros hobbies.
Em 1997, o baile de finalistas, uma noite inesquecível cuja banda sonora foi escolhida por nós. Eu, a Maria Rita e mais alguém que não recordo: juntos numa casa a gravar a nossa escolha musical em cassetes (e com um sentido sonoro tenebroso que metia um slow entre cada dois kuduros).
Em 2013 assisti ao “Av. Dos Bons Amigos” no Teatro Maria Matos e o que senti foi uma capacidade de fechar os olhos e, nunca tendo percorrido aquela avenida, conhecer cada um dos pontos, cada um dos caminhos, cada uma das memórias visuais que eram do Rui mas que acabavam por ser de cada um de nós: freguesas das freguesias da zona metropolitana de Lisboa.
Em 2018 fui até ao Terreiro do Paço sem ter lido muito sobre o que ia ver… Um conjunto de intérpretes (alguns dos quais da mesma terra que me deu raízes) fizeram-me ser espectadora de uma das muitas festas que eu própria participei. A alegria, a cumplicidade, a energia entraram por cada um dos meus poros e contaminaram-me.
Vimos o rocker do grupo, a diva, a rainha da noite, a divertida, o artístico, o que até parecia que dançava; todos na festa que era a festa deles e que ao mesmo tempo era cada uma das nossas festas, de cada um dos que estavam ali a assistir.
Diz o Rui que “… ÚLTIMO SLOW é menos um convite à nostalgia do que uma tentativa de resgate” e apesar de concordar com ele, acabo igualmente por discordar. Último Slow foi para mim o resgate de um conjunto de memórias, foi um retorno a um passado, ao par que nos convidou para o baile de finalistas, àquela dança que fizemos com aquele que não tivemos coragem para convidar mas principalmente um regresso ao mais íntimo de mim.
Chega ao fim da “noite” e todos os DJs passam os slows; as músicas que servem para abrandar os ritmos da noite mas ao mesmo tempo as que acendem as últimas hipóteses de nos aproximarmos de quem vimos durante a noite. Fazemos os nossos jogos de aproximações e recuos e, se tivermos sorte, ganhamos (pelo menos) a última dança.
Dia 12 (de outubro 2018) ainda vão a tempo de entrar em cada um dos vossos slows: Pelas 21h no Salão de Festas de Vale Fundão (Azinhaga do Vale Fundão, Marvila – Bairro da Prodac Sul).
Dramaturgia e coreografia: Rui Catalão
Interpretes: Kim Baraka, Tiago Barbosa, Jéssica Ribeiro, Rolaisa Embaló, Catarina Keil, Davide Cipriano, Tiago Gandra, Augusto Amado, Joãozinho da Costa, Ruben Saints, Matthieu Ehrlacher
Luzes/direção técnica: Cristovão Cunha
Figurinos: Carlota Lagido
Produção: [PI] Produções Independentes / Tânia Guerreiro
Coprodução: Câmara Municipal de Lisboa/ Biblioteca de Marvila
Apoio: Largo Residências; Junta de Freguesia de Arroios.
[PI] Produções Independentes é uma estrutura apoiada pela República Portuguesa – Ministério da Cultura / Direção-Geral das Artes.
Foto: Alípio Padilha
Morada:
Salão de Festas de Vale Fundão (Azinhaga do Vale Fundão, Marvila – Bairro da Prodac Sul)