Mário.
Mário Ruivo é o nome que me vem à cabeça quando penso na turma de 9º ano. Quando penso nas pessoas que percorreram comigo os intervalos, as aulas.
A Raquel voltou a 95, ao seu 9º ano com o propósito de ver com um olhar independente e maduro o que tinham sido os seus momentos nos Salesianos de Lisboa – Oficinas de S. José.
De uma forma despretensiosa passamos por cada história, por cada impressão. Por cada lágrima.
Pelos sorrisos de confiança, pelas afirmações de rebeldia que mais não eram do que máscaras de insegurança.
Pelos caminhos planeados muitas vezes tão diversos dos caminhos seguidos.
É difícil entrar naquela sala sem nos identificarmos com a Raquel. É mais difícil não vermos também em cada um dos colegas dela os traços dos que passaram na nossa vida. Mas as realidades desse tempo, mesmo que nos juntemos todos encontram-se esfumadas. Eu lembro-me melhor das vezes que foram terríveis comigo do que as tantas que fui terrível com os outros. Pau de virar tripas, tábua de engomar, sais ao pai (estas acompanharam-me até à Universidade). Mas e as que eu chamava? Não me pesam na pele nem na mente da mesma forma.
Dizia um dos colegas da Raquel que éramos todos assim – gozávamos todos uns com os outros, com os professores. Os professores que nos deixaram memórias – boas e más. Os que nos disseram lemas de vida e os que foram os monstros contra quem lutávamos quando pensávamos em desistir: Eu tive uma que me disse, no último dia que me viu no 9º ano, que era bom ter o sorriso sempre presente porque a vida não ia ser feita de facilidades. E, ainda que detestável, foi nela que pensei quando ia perdendo forças.
As depressões, os sonhos esmagados.
A fotografia. Consigo encontrar de alguns anos mas a minha, do 9º ano, não existe. E lembro-me de todos e de cada um. Lembro-me dos choros de amores eternos que passavam em poucas semanas. Lembro-me das roupas de marca que nunca tive. Lembro-me dos penteados (malditos anos 90).
A Raquel levou-me pela mão no caminho da sua escola – almocei com ela no Canas (a sanduiche e o Ginger Ale) e todos os dias, na pausa da manhã, enquanto ela comia bolos para engordar eu fazia desaparecer pães com chouriço.
A Raquel conseguiu encontrar todos os colegas de 9º ano e desmistificar memórias passadas.
Eu tenho o contacto com quase todos dos meus e andamos frequentemente a adiar um encontro… Sempre para depois. Um depois onde o nosso Mário não está.
Ao Mário e às memórias que não voltámos a recordar juntos. A nós… Quando nos encontramos?
Turma de 95, de Raquel Castro
06 – 15 Dezembro
Teatro do Bairro Alto
Lisboa
A partir de Class of 76 de Third Angel
Criação e interpretação Raquel Castro
Apoio à dramaturgia Alexander Kelly
Direção de Produção Vítor Alves Brotas | Agência 25
Desenho de luz Daniel Worm
Apoio técnico João Gambino
Residência O Espaço do Tempo, Companhia Olga Roriz, Fundação Arpad-Szenes-Vieira da Silva
Apoios Câmara Municipal de Lisboa, Polo Cultural Gaivotas | Boavista
Coprodução Barba Azul, Teatro do Bairro Alto, O Espaço do Tempo, Centro de Arte de Ovar e Teatro das Figuras
Fotos de cena Bruno Simão