O espetáculo O Duelo, em cena no Teatro Carlos Alberto, no Porto, entre 1 e 10 de julho, é baseado na novela, publicada em 1811, do poeta alemão Heinrich von Kleist, considerado o mais importante dramaturgo do movimento literário romântico alemão.
Com dramaturgia a cargo da ensaísta Maria Filomena Molder, interpretação do ator Miguel Loureiro e encenação de Carlos Pimenta, a peça tem como desafio narrar esta história no formato ‘incómodo’ do teatro invisível.
Para a filósofa Maria Filomena Molder: “Nem clássico nem romântico, Kleist é o primeiro moderno entre os poetas alemães.” Um poeta, que terá sido «renegado por Goethe e Hegel», mas identificado como «um dos autores prediletos de Kafka», conta aqui uma história romântica, passada na época medieval, sobre um triângulo amoroso em que a justiça, impiedosa, é feita através de um duelo. Neste exercício decrépito da defesa da honra, Deus é apenas um profeta do acaso e a lei está na ponta da espada. Como seria de antever a justiça é só uma miragem.
Conforme explica o encenador que, junto com João Pedro Fonseca, também assegura a cenografia da peça «é um ator com as palavras do Kleist, com as palavras de Maria Filomena Molder, com um palco, com um cenário que, no fundo, são imagens, para que ele tenha prazer e para que todos esses aspetos não compliquem aquilo que ele tem de descomplicar que é o seu acting, que é isso que é importante».
As imagens, projetadas num palco quase despido, cedo fazem perceber que é em Miguel Loureiro, única voz das várias vozes que integram esta novela, que se tem de centrar toda atenção. O objetivo parece claro e simples: que se ouça a história que se quer contar. O ator, sozinho em cena, descreve e encarna personagens, sentimentos e ações. A grande dificuldade para o espectador não é apenas deslindar o crime em que o principal suspeito tem como alibi o alegado encontro com Wittib Littegarde von Auerstein na noite do crime, mas estabelecer ligação com as personagens. Existe, de facto, apesar da experiência e entrega de Miguel Loureiro, uma barreira entre este teatro invisível e personagens que não podem interagir em cena e da qual se pode sentir falta. O final parece precipitar-se enquanto tentamos agarrar as personagens e compreender o verdadeiro alcance deste confronto entre a justiça divina e a justiça terrena que é o busílis do texto rico de Kleist que dá mote ao espetáculo.