Hoje em dia, o estilo de escrita em capítulos curtos e directos ao assunto estão muito em voga (Dan Brown vem à mente). Mas, já no longínquo ano de 1881, Machado de Assis usava esse recurso na sua escrita, nomeadamente em “Memórias Póstumas de Brás Cubas”.
Este é um livro com várias particularidades muito interessantes.
Em primeiro lugar é um romance póstumo, mas escrito na primeira pessoa. Brás Cubas narra-nos a sua biografia de uma ponta à outra, incluindo a sua morte. Não estou a “cometer” um spoiler, pois o próprio título do livro é explicito: “Memórias Póstumas”.
Outro aspecto que me atraiu foi a curta extensão dos capítulos (mais de 100). Isto permite um ritmo de leitura mais dinâmico, e prende leitores com maturidades de leitura diferentes.
O terceiro pormenor que destaco é o facto de o narrador por diversas vezes se dirigir ao leitor, ora tornando-o cúmplice, ora fazendo troça dele. Este é um aspecto de grande originalidade, que acrescenta uma camada de humor à obra.
O autor, com este livro, elabora uma forte crítica, de forma irónica, aos privilégios da elite brasileira da época.
Em termos de conteúdo, propositadamente não entro nele para não estragar o prazer da leitura. Apenas digo que somos levados por Brás Cubas, de inconseguimento em inconseguimento, até ao inconseguimento final.
Memórias Póstumas de Brás Cubas
de Machado de Assis
Edição: Relógio d’Água, Guerra e Paz (Comprar em wook.pt)
Foto: Pedro Mendes