Começo por uma reflexão deixada pela personagem do professor e mentor de Marvin, na sua apresentação na Escola de Teatro. Uma criança negra, sendo insultada de “preto porco” na escola, volta para casa triste e magoada, mas é naturalmente apoiada e acarinhada pelos pais, que lhe dão consolo. Por outro lado, uma criança gay a quem chamem “maricas” na escola, volta para casa e não tem qualquer apoio, sente-se só. O professor referia-se à sua história pessoal, que também é a história de Marvin, a personagem principal deste filme.

Marvin cresceu na França rural, numa família pobre, onde ser gay não era uma opção. Não se sente integrado nem na escola nem em casa. Aliás, as cenas de bullying homofóbico que sofre na escola são perturbantes, mas não duvido que reflitam uma realidade ainda presente em muitos meios.

A influência da sua professora e primeira mentora, Madame Clément, na sua escolha pelo teatro é fundamental na sua vida.

Ingressa numa escola de teatro e “foge” para Paris, onde se pode integrar no meio queer e artístico. Inicia aí um processo criativo de escrita de uma peça em que recorda a sua difícil infância e relação com a família.

O filme salta constantemente entre os tempos de Marvin na aldeia e a sua nova vida enquanto jovem adulto em Paris, com contrastes óbvios. Embrenha-se cada vez mais no meio artístico e conhece Roland, um homem mais velho e rico, e torna-se seu amante.

É quase surreal o momento em que Roland lhe diz “Marvin, apresento-te a Isabelle Huppert”. Torna-se mentora dele, ganhando um importante papel na sua vida artística.

Marvin encontra finalmente o sucesso com o apoio de Huppert, num espectáculo em que exorciza o seu passado.

A certa altura, reencontra-se com o pai, que nunca o compreendeu, e que numa tocante cena, perto do final do filme, se aproxima do filho, mostrando um lado terno que não lhe tínhamos visto anteriormente.

Num filme inspirado e livremente adaptado a partir de uma história verídica, a realizadora Anne Fontaine traz-nos uma história de passagem para a idade adulta.

Tanto Finnegan Oldfield (Marvin jovem adulto) como Jules Poirier (Marvin criança) compõem a personagem de forma exímia, com todas as nuances necessárias mas sem exageros. Uma excelente escolha de actores. Isabelle Huppert tem um desempenho brilhante, mesmo interpretando-se a ela própria.

Marvin estreia-se dia 8 de Março de 2018 nas seguintes salas:

  • Cinemas UCI El Corte Inglês (Lisboa)
  • O Cinema Da Villa (Cascais)
  • Cinemas UCI Arrábida 20 (Gaia – Porto)
  • NOS Alma Shopping (Coimbra)
  • Cineplace Nova Arcada (Braga)
Categorias: Cinema

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