O francês Tocqueville escreveu o texto que dá nome e livremente inspira o espectáculo que Romeo Castellucci trouxe a Lisboa. Nesse texto, o diplomata reflecte sobre as instituições civis norte-americanas, vistas a partir de uma perspectiva europeia. Coproduzido pelo São Luiz Teatro Municipal, a peça esteve em cena de 23 a 25 de março de 2018.
A acção começa com o que poderia ser uma típica parada americana, com um conjunto de mulheres fardadas a rigor e ostentando bandeiras com letras estampadas. Começam por formar o título do espectáculo, “Democracy in America”, que depois se vai reconfigurando em outras expressões mais ou menos lógicas, terminando com a formação do nome de uma série de países de várias partes do mundo, o que remete para a globalização, muito impulsionada pelos Estados Unidos.
Num segundo quadro, assistimos a um diálogo entre dois nativos americanos, que tentam aprender inglês para assim comunicarem e se protegerem do invasor. Discorrem sobre o papel e importância dessa aprendizagem, e também da importância da linguagem.
A cena que se segue decorre no lar de um casal de puritanos americanos, cegos na sua crença em Deus e no seu poder incomensurável. Passam dificuldades extremas e a sobrevivência é difícil. A mulher transgride, e isto acarreta consequências imediatas e severas. Assistimos a uma das imagens mais fortes do espectáculo, em que a mulher é como que possuída por uma força sobrenatural, começando a falar uma língua indígena.
A parte final do espectáculo é mediada por uma cortina translúcida à boca de palco, fazendo com que a acção não nos chegue directamente. É como se um ecrã existisse entre espectadores e cena. Decorre então um ritual de dança, em que as intérpretes formam e desfazem em sequência vários símbolos religiosos.
Existem vários momentos muito fortes visualmente, algo que caracteriza Castelucci, e em que não desilude nesta passagem por Lisboa.
Democracy in America, de Romeo Castellucci
23-25 março 2017
São Luiz Teatro Municipal
Lisboa