O Cabaret é uma tradição antiga, com origem no final do século XIX em Paris (onde mais poderia ser?). Já nos anos 70 do século XX, Bob Fosse trouxe-nos o filme homónimo “Cabaret”, com Lisa Minnelli, e o género ficou para sempre no imaginário dos amantes da cultura e da música.
Martim Pedroso e João Telmo trazem-nos a sua primeira produção de 2018 enquanto Nova Companhia, uma dose tripla de comédia, música, e entretenimento, a lembrar tempos idos, mas tão relevante nos tempos que correm.
A noite começa com Kiki, interpretada por Carla Bolito, e conta a história de uma mulher boémia que habita os cabarets e as ruas de Paris. Música, sexo, decadência, mas também glamour e fama são facetas da vida de Kiki, que acompanhamos desde as suas origens até ao fim da vida. Carla Bolito interpreta de forma exímia esta mulher, chocando-nos (ou tentando), divertindo-nos ou comovendo-nos. Uma vida de excessos muito bem representada, que nos leva aos bons tempos da cidade luz.
Depois de um intervalo, somos levados ao universo de Bas Fond, uma criação e interpretação de Martim Pedroso e João Telmo. A abrir, lançam-se num diálogo frenético sobre partes do corpo humano e a sua relativa importância face às outras. Um texto pleno de humor, muito bem entregue pela dupla.
Na segunda parte deste Bas Fond, os artistas apontam baterias ao teatro e o estado das artes. Num diálogo de aparente criação espontânea, desfiam referências à história das artes performativas, tanto nacionais como internacionais, que os mais atentos a essa realidade irão achar deliciosas. Trocadilhos e humor não faltam. Depois, críticos mordazes, atiram piadas e recados às entidades que gerem e apoiam as artes em Portugal, falando assim a brincar, da dura realidade que grande parte da comunidade artística enfrenta e das suas dificuldades em sobreviver com a sua arte.
Na parte final, chamam um convidado (diferente todos os dias) e, que na noite em que assisti, foi o actor Diogo Amaral. O convidado é colocado numa posição algo delicada. Seria interessante ver como cada uma das 15 personalidades manobram as questões que lhe são colocadas.
A terminar a noite entra em cena Lady M, nome de palco de Marlyn Ortiz. Performer, artista de burlesco (ah, e Personal Trainer de Madonna), lança-se numa actuação cheia de energia e sensualidade, que fecha com chave de ouro uma noite que passa sem que se dê conta do tempo. Fazem falta espectáculos destes, completos, que aliam o entretenimento à crítica. A mim, deu-me em igual dose boa disposição e matéria para reflexão.
Cabarética
(Kiki, Bas Fond, Lady M)
7 a 25 de fevereiro
Teatro do Bairro
Lisboa
Kiki
Conceção e Direção: João Telmo; Interpretação: Carla Bolito e João Telmo; Apoio à Dramaturgia: Martim Pedroso; Apoio ao Movimento: Paulo Duarte Ribeiro; Desenho de Luz e Direção Técnica: Paulo Santos; Música Original e Sonoplastia: Tiago Martins; Cenografia: Rueffa; Figurinos: Cristina Homem de Gouveia; Maquilhagem: Cátia Bolota; Cabelos: Ana Sousa; Fotografia: Alípio Padilha; Design de Comunicação e Ilustração: Sílvia Franco Santos; Produção Executiva: Sérgio Azevedo; Produção: Nova Companhia.
Bas Fond
Concepção e Direção: João Telmo e Martim Pedroso; Texto: João Telmo; Interpretação: João Telmo e Martim Pedroso; Apoio à Dramaturgia: Martim Pedroso; Apoio ao Movimento: Marlyn Ortiz; Desenho de Luz e Direção Técnica: Paulo Santos; Música Original e Sonoplastia: Cristóvão Campos; Cenografia: Rueffa; Figurinos: David Ferreira; Maquilhagem: Cátia Bolota; Cabelos: Ana Sousa; Fotografia: Alípio Padilha; Design de Comunicação e Ilustração: Sílvia Franco Santos; Produção Executiva: Sérgio Azevedo; Produção: Nova Companhia.
LADY M
Conceção, Direção e Interpretação: Marlyn Ortiz; Desenho de Luz e Direção Técnica: Paulo Santos; Fotografia: Alípio Padilha; Design de Comunicação e Ilustração: Sílvia Franco Santos; Produção Executiva: Sérgio Azevedo; Produção: Nova Companhia.