Existem variadas histórias que definem Narciso na mitologia, a mais conhecida mostra-nos um Narciso que ao ver o seu reflexo na água se enamora a tal ponto que não resiste a mergulhar para a morte. Uma morte motivada pela vaidade.
A 4 de Setembro assistimos à antestreia de “Black Narcissus” de Filipe Viegas. Uma reposição de um trabalho de 2008 que nos leva a pensar nesse lado negro do narcisismo. Entre as 19h e as 23h até dia 14 somos convidados a entrar na Latoaria, nas Escadas do Monte e deixar na rua qualquer ideia pré concebida – somos convidados a circular, interagir, entrar ou sair, permanecer. Somos recebidos por um corpo nu que observamos e que remete essa observação de uma forma intensa, quase que espelhando essa nudez em cada um de nós.
Sentamo-nos e observamos um corpo em protagonismo onde o jogo de luzes nos faz pensar se efectivamente é um corpo em exibição ou um corpo a tentar “esconder-se” de tantos olhares incisivos.
Sentamo-nos e, qual narciso, sentimos que de repente estamos a olhar para dentro, para nós num reflexo humano.
Senti-me, eu própria, despida: de pensamentos, de subterfúgios, de vergonhas. E ao mesmo tempo que pensava nesse protagonismo meu e do Filipe, meu e de cada um dos espetadores, dei por mim a pensar na resignação de nos sentirmos observados.
O espectáculo de dia 4 era um pano branco sobre o qual vai crescendo toda uma performance que se alimenta e se constrói dia após dia. O bilhete será único e dará acesso a cada uma das sessões subsequentes.
Quanto a mim, voltarei: qualquer narcisista só está completo quando se sente observado. No entanto, qual de nós será mesmo o narcisista?
Black Narcissus uma ideia original de Filipe Viegas
04 a 14 de setembro 2018
Latoaria
Lisboa
Co-criação, dramaturgia e mise-em-scene Filipe Viegas e Jaime Conde-Salazar Pérez
Fotógrafo Oficial e Guest-Artist Miguel Bartolomeu
Montagem Luís Gomes
Uma produção Bomba Suícida
Co-Produção Divas Iludidas e Príncipe Filipe