As minhas incursões na Dança Contemporânea começaram há aproximadamente 8 anos em Évora. Ainda sem saber muito bem ao que ia fui confrontada com uma leveza de abordagem dos temas e uma frescura de interpretação que ainda hoje recordo com carinho. E quem foi a primeira artista que vi? A Vera Mantero!

“As Práticas Propiciatórias dos Acontecimentos Futuros” são a interpretação da Vera e demais criadores sobre o trabalho desenvolvido por Ernesto de Sousa (1921-1988). Este artista multidisciplinar usava a frase que dá título à peça para definir arte popular. E, de uma forma simples e despretensiosa, mas ainda assim, sagaz e pertinente somos perfilados com textos lidos, declamados, com as figurinhas de bibelot que todos nós vimos nas salas das nossas avós, com jogos de palavras e objectos que os representam. Os figurinos são simples mas pensados, são peças de uma mesma linguagem de comunicação – são palavras em tecidos, em pasta de papel, em plástico.

Assistir a esta peça é, mais que tudo, sentir a maioria dos sentidos desafiados, sentir que não se assiste mas se participa, sorrir com as frases mas também pensar – pensar na importância de cada um de nós como massa crítica.

E quando estamos embrenhados a assistir somos chamados a participar – a ouvir as instruções dessa hospedeira da vida que nos relembram a importância do apoio às artes pela Arte em si, somos chamados a mexer-nos, a partilhar vida, alimento, corpo. A Revolucionar o corpo, Revolution my body, não é caro Ernesto?

Para quê escrever mais? Talvez não seja preciso, talvez não seja importante… No fim, só a arte permanecerá viva!

As Práticas Propiciatórias dos Acontecimentos Futuros, de Vera Mantero
(Alkantara Festival)
29 a 31 de maio 2018
Culturgest
Lisboa

Direção artística Vera Mantero
Interpretação e co-criação Henrique Furtado Vieira, Paulo Quedas e Vânia Rovisco
Assistência Inês Cartaxo e Tiago Barbosa
Apoio à investigação Isabel Alves e Paula Pinto*
Espaço e elementos cénicos André Guedes com a equipa
Som e objetos sonoros João Bento
Desenho de luz e direção técnica Hugo Coelho – Aldeia da Luz
Realização e edição Vídeo Hugo Coelho
Captação de imagem Hugo Coelho e Paulo Quedas
Figurinos Carlota Lagido
Apoio à execução de adereços Rita Rosa Pico
Produção O Rumo do Fumo com o apoio da Fondation d’Entreprise Hermès no âmbito do programa New Settings
Coprodução Alkantara Festival e Teatro Municipal do Porto
Apoio Câmara Municipal de Lisboa

* Investigação feita a partir da exposição Ernesto de Sousa: A mão direita não sabe o que a esquerda anda a fazer… com curadoria de Paula Pinto para a XIX Bienal de Cerveira (2017).

Foto: Vitorino Coragem

Tags:
Categorias: Dança

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *